A
importância da liturgia
O Papa Bento XVI sublinhou a
importância da liturgia na vida espiritual cristã, como foi para Santa Matilde
de Hackeborn, a quem apresentou hoje durante a audiência geral.
Seguindo seu ciclo de escritores
cristãos, que, com Hildegarda de Bingen no final de agosto inaugurou uma série
de catequeses sobre mulheres insignes, o Papa quis hoje falar sobre uma das
grandes figuras do monaquismo alemão.
Santa Matilde de Hackeborn, de família
nobre, nasceu e morreu no século XIII, em Turíngia (Alemanha) e viveu quase
toda a sua vida no convento de Helfta, na mesma congregação em que estava sua
irmã mais velha, Gertrudes.
Naquela época - e graças a Gertrudes
-, o mosteiro de Rodersdorf e o de Helfta se converteram, afirmou o Papa, em um
importante "centro de mística e de cultura, escola de formação científica
e teológica".
Matilde "pela humildade, fervor,
amabilidade, limpeza e inocência de vida, familiaridade e intensidade na
relação com Deus, com Nossa Senhora e com os santos. Estava dotada de elevadas
qualidades naturais e espirituais".
Entre outras, tinha uma voz de
extraordinária suavidade. Foi professora do coral do convento, além de mestra
de noviças.
Matilde
era chamada com o apelido de "rouxinol de Deus".
"A oração e a contemplação foram
o adubo vital da sua existência: as revelações, seus ensinamentos, seu serviço
ao próximo, seu caminho na fé e no amor têm aqui sua raiz e seu contexto",
explicou o Papa.
"É impressionante a capacidade
que esta santa tinha de viver a Liturgia em seus vários componentes, inclusive
os mais simples, levando-a à vida monástica cotidiana", acrescentou o
Pontífice
"Suas visões, seus ensinamentos,
as circunstâncias da sua existência são descritas com expressões que evocam a
linguagem litúrgica e bíblica", explicou.
A santa tinha, segundo destacou o
Papa, um "profundo conhecimento da Sagrada Escritura, seja tomando
símbolos, termos, paisagens, imagens ou personagens".
De Matilde, Bento XVI convidou os
fiéis a imitarem a importância que ela dava à Liturgia das Horas e à Santa
Missa.
"A oração pessoal e litúrgica,
especialmente a Liturgia das Horas e a Santa Missa, são a raiz da experiência
espiritual de Santa Matilde de Hackeborn."
"Isso é também para nós um forte
convite a intensificar nossa amizade com o Senhor, sobretudo através da oração
cotidiana e da participação atenta, fiel e ativa da Santa Missa. A Liturgia é
uma grande escola de espiritualidade", acrescentou.
Matilde sentia grande predileção pelo
Evangelho, que o próprio Jesus, em uma visão, lhe recomendou ler, para
compreender "seu imenso amor", que "em nenhum lugar se encontra
expresso mais claramente que no Evangelho".
As cinco
chaves para compreender e amar a liturgia da missa
A
liturgia foi como um salto para a minha conversão verdadeira. E é justamente
pensando em termos de liturgia que eu posso sentir o quanto é paradoxal ser
católico. Aqui apresentam-se em constante embate obediência versus rebeldia, zelo versus desleixo, ordinariedade versus extraordinariedade
e por aí vai. De modo semelhante somos nós nas encruzilhadas da vida, pois há
sempre dois caminhos a seguir e nem sempre é fácil optar pelo correto.
Tento
isso em conta, pensei em cinco pontos que para mim, enquant0 fiel leig0, sã0
essenciais para se c0mpreender e amar a liturgia da missa. Retire um deles e
logo você perceberá que alguém resolveu tomar o caminho mais curto (perceba,
liturgia não é nada simples) na encruzilhada. Ach0 que a festa de Pentecostes –
data em que só faltam vender abadás na porta da igreja – é um bom começo para
pensarmos nesses pontos que podem ajudar em nossa tarefa de defender a sagrada
liturgia:
Unidade: “Que todos sejam um” (Jo 17,21).
Essas f0ram as palavras de Cristo durante a última ceia, momento em que ele
expressa seu desejo ardente de que a sua Igreja nascente permanecesse unida
pelos séculos vindouros. Creio que se a liturgia ficasse à mercê de
arbítrios particulares (cada bispos decidindo em suas dioceses como celebrar),
dificilmente teríamos a Igreja de Cristo unida atualmente. O que hoje seria
dividido, talvez seria muito mais. A unidade é o elemento que garante que uma
missa na Índia tenha o mesmíssimo valor sacramental de uma missa celebrada aqui
no Brasil. Para isso contribuem as rubricas, livros formados após diversos
concílios para normalizarem por todo o mundo a missa. O latim, que muitos
consideram apenas um adereço medieval, é outro grande elemento de unidade. Nada
mais confortante que passar uma temporada num país estrangeiro e, apesar de não
entender nada nos primeiros dias, de repente ouvir o mesmo “Hoc est enim Corpus
meum” de sempre…Naquele momento você passa a ter a única certeza que vale a
pena ter: você está na presença do seu criador, nada mais importa.
Tradição: Quando Jesus pede “fazei
isso em memória de mim” (Lc 22,19) lega-n0s um dos primeiros elementos de
tradição da liturgia católica: todos os sacerdotes, em todos os lugares,
línguas e épocas devem repetir exatamente o “isso” expresso nas palavras da
última ceia. Além dessas palavras que permaneceram imutáveis por quase dois mil
anos, preservamos muitos elementos da liturgia sacrifical judaica. Não é à toa
que o papa Bento XVI sempre fala da tal hermenêutica da continuidade. Ele
menciona tal hermenêutica para que entendamos que se a Igreja introduziu ao
longo dos séculos algo novo na forma, a essência permanece a mesma. A Igreja
sempre procurou “empacotar” os elementos sagrados que se consolidaram ao longo
da história da salvação e difundi-los pela ação litúrgica. Portanto, quando
buscamos elementos externos à tradição da Igreja, introduzimos como que um
vírus no corpo são. Cada padre deve ser então como um anticorpo, obstinado em
expulsar corpos estranhos desse corpo do qual é guardião.
Sacrifício: acho que deveríamos ensinar na
catequese um novo nome para a missa: sacrifício. Crianças, hoje nós vamos ao
Sacrifício; Como se portar durante o sacrifício; “Domingo sem Sacrifício é
domingo sem graça”, etc., de modo que essa noção se consolide na cabeça dos
fiéis. Se entendemos a missa do modo correto: a perene ação da oferta de Cristo
na cruz, é muito mais fácil percebermos a importância do momento vivido. Assim
evita-se gente batendo palmas (quem bateria palmas no calvário?), gente usando
decote, batucadas e tantos outros elementos estranhos ao conceito de
sacrifício.
Comunhão: apesar de estar relacionado ao
conceito de unidade, dou ênfase a este ponto por ir ainda mais além. Mais que o
momento em que recebemos a hóstia, a noção de comunhão é essencial para
vivermos bem o momento da missa. Nesse momento estão unidas, num só louvor as
três igrejas: a militante, a padecente e a triunfante, todas trocando dons
entre si. Trazendo essa concepção só para o plano da igreja militante, nós aqui
na terra, podemos dizer que a comunhão é ainda mais intensa. Ou seja, eu estou
em comunhão com o papa em Roma, que está em comunhão com a senhorinha em Cuba,
que está em comunhão com o padre jesuíta na china, que está em comunhão até
mesmo com os ortodoxos cismáticos! E não para por aí. Cada vez que se reza uma
missa, derramam-se bênçãos e graças mesmo sobre aqueles que não participam da
celebração. Todos estão presentes, em suas mais diferentes realidades num
único e mesmo sacrifício. Ter essa noção de que não estamos circunscritos ao espaço
físico de nossa paróquia nos faz repensar ainda mais a importância do ato
litúrgico.
Estética: “a
liturgia da missa é um reflexo da glória eterna”. Foram essas as palavras que
ouvi da boca do padre na missa de hoje. Nada mais correto que, nesse sentido,
buscarmos tudo de melhor e mais belo para clarificar essa verdade. Muitos
apelam para uma concepção errônea de Deus ao atestarem: “Deus era simples”,
“ele não liga para luxos e riquezas”, “poderiam vender e dar tudo para os
pobres”, mas não percebem que isso contradiz o respeito e a dignidade que
Cristo devotava ao templo de Israel. Quem eram os vendilhões? Quem zelava para
que o templo fosse um lugar santo ou quem o profanava transformando-o num
comércio? Tudo na missa deve ser uma representação da beleza celeste. Para isso
podemos usar a imaginação: como seria o turíbulo em que os anjos incensam o
Cordeiro glorioso? Como seriam as vestes de Cristo em majestade? Cada
liturgista, cada sacerdote deve despertar nos fiéis, por meio da liturgia, o
anseio, o desejo do céu, o desejo de viver na presença de Deus para sempre.